"Vou-me à imensidão com minhas asas azuis buscar pelos versos ocultos"

 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Xaile Negro

 


Puxo o negro do meu xaile

Contra o frio da solidão,

 A vida é um triste baile

Dançado no coração.

A lua, pálida e fria,

Espreita na minha janela,

 Vê-me à espera de um dia

Que se apagou como a vela.

Dizem que o tempo é doutor,

Que cura tudo o que dói,

Mas tempo sem o teu amor

É tempo que me destrói.

Olho as águas do Tejo

A correr p’ra não voltar,

Levaram o último beijo

Que não me chegaste a dar.

Ai, Fado, meu triste fado,

Que me trazes a sofrer,

Quem vive preso ao passado

Morre aos poucos sem morrer.

 Chora, guitarra, comigo,

Nesta rua de amargura,

Se o amor é um castigo,

A saudade é a tortura.

 Já gastei as pedras todas

 Da calçada, de esperar.

O destino tece as rodas

Que nos fazem tropeçar.

 Não culpo a minha má sorte,

Nem a tua ingratidão,

Amar-te foi o meu norte,

Perder-te, a minha perdição.

 Quando a voz me falecer

E o meu canto se calar,

Só peço, ao entardecer,

Que alguém te vá contar:

Que fui rainha e fui serva

Deste amor que me consumiu,

Como a flor que se conserva

Numa carta que ninguém viu.

 Ai, Fado, meu triste fado,

Que me trazes a sofrer,

Quem vive preso ao passado

 Morre aos poucos sem morrer.

Chora, guitarra, comigo,

Nesta rua de amargura,

Se o amor é um castigo,

A saudade é a tortura.



AnnaLuciaGadelha







 

 

 

3 comentários:

  1. Belíssimo poema aqui partilhas.
    O Xaile negro, símbolo da tristeza e da solidão, muito bem descrito nestas belas e sentidas palavras.
    Gostei muito, amiga Anna.

    Beijinhos e feliz semana, com tudo de bom.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com
    https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

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  2. Belíssimo poema em forma de fado. O fado é muito mais do que um gênero musical, pois está na alma do povo português. Excelente, Anna.

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  3. Me senti no Alfama ou na Mouraria e me deixei tocar por esse patrimônio da humanidade e pela canção a transbordar melancolia, saudade, destino do eu lírico, sobretudo um belo poema.
    Bela partilha, Anna!
    Beijo,

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