Puxo o negro do meu xaile
Contra o frio da solidão,
A vida é um triste
baile
Dançado no coração.
A lua, pálida e fria,
Espreita na minha janela,
Vê-me à espera de um
dia
Que se apagou como a vela.
Dizem que o tempo é doutor,
Que cura tudo o que dói,
Mas tempo sem o teu amor
É tempo que me destrói.
Olho as águas do Tejo
A correr p’ra não voltar,
Levaram o último beijo
Que não me chegaste a dar.
Ai, Fado, meu triste fado,
Que me trazes a sofrer,
Quem vive preso ao passado
Morre aos poucos sem morrer.
Chora, guitarra,
comigo,
Nesta rua de amargura,
Se o amor é um castigo,
A saudade é a tortura.
Da calçada, de
esperar.
O destino tece as rodas
Que nos fazem tropeçar.
Não culpo a minha má
sorte,
Nem a tua ingratidão,
Amar-te foi o meu norte,
Perder-te, a minha perdição.
Quando a voz me
falecer
E o meu canto se calar,
Só peço, ao entardecer,
Que alguém te vá contar:
Que fui rainha e fui serva
Deste amor que me consumiu,
Como a flor que se conserva
Numa carta que ninguém viu.
Ai, Fado, meu triste
fado,
Que me trazes a sofrer,
Quem vive preso ao passado
Morre aos poucos sem
morrer.
Chora, guitarra, comigo,
Nesta rua de amargura,
Se o amor é um castigo,
A saudade é a tortura.
AnnaLuciaGadelha